sexta-feira, 11 de março de 2011

Oublié




       A vida continua mesmo quando não se está presente. Admito: senti uma felicidade intensa e um leve sorriso se estampou em minha face quando cheguei a tal conclusão. Andei devagar; acompanhei cada gesto e cada brisa. 
     Ontem às sete e vinte da manhã, lá estava eu andando pela calçada tortuosa; às sete e vinte da manhã lá estava o homem a varrer as folhas do chão; às sete e vinte da manhã lá estavam as pessoas a tomar o amargo café da padaria. Atravessei a rua, caminhei um pouco e parei para esperar o  ônibus. 
      Hoje, porém, ao fazer o tão percorrido trajeto percebi que o homem da vassoura não estava na sua calçada, assim como poucas e cansadas pessoas estavam na padaria. Não havia carros na rua. Pensei: o mundo acabou e não estou informada. Segui normalmente. Senti o aroma da laranja. Aos poucos a cidade foi ganhando seu brilho costumeiro, e às duas da tarde o Sol apareceu. Fiquei aliviada. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O que a razão humana não pode alcançar

    
     Aquela era para ser uma noite como outra qualquer, mas não foi. A paisagem clichê não diminuiu a beleza e o sentimento de um perante o outro.     
    A cidade preparada para adormecer emanava ruídos e algum tipo de silêncio... quando a quietude se fazia ouvir, a moça escutava seus próprios sons, o coração batia um pouco mais rápido, a respiração agitada. E assim como uma flor desabrochando, ela começou a ouvir seus sentimentos; o estômago e os intestinos se contorciam dentro do oco de sua barriga.
    Os pensamentos a guiaram ao destino final; algumas pessoas estranhas num lugar estranho. As cenas decorridas a partir de sua chegada tornaram-se cada vez mais lentas; talvez fosse a dissonância entre a vagarosa velocidade de seu cérebro e o furor de seu corpo. Aquele ambiente sórdido e concomitantemente esplendoroso tocava uma música... ou porventura fosse algum filme antigo num canal perdido; não importava, as mentes presentes estavam longe.           
    As horas passaram tão rapidamente que somente os relógios registraram o tempo decorrido. Ele sorria admirado. Ela estava absorta. Os dois saíram dali e caminharam na escuridão sob árvores amarelas e entre esquinas tortuosas... talvez caminharam até o infinito. 


Mariana Sacconi

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Felicidade ou Sublimes momentos

    



      Não sei como libertar os contos que tenho dentro de mim. Sei de histórias mas a caneta não flui. O fluxo de pensamento cessou há algum tempo.
      Só sei que o coração está repleto de felicidade e palavras não são suficientes para descrever meus sentimentos ou acontecimentos há pouco sucedidos.

Mariana Sacconi

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma manhã



   


    Era cedo. O movimento da porta se fechando criou nela um sentimento estranho. Ali perto alguns pássaros cantavam um pouco cansados; e ela percebeu o quanto a fadiga invadia seu corpo.
    Deitou-se e adormeceu logo. As horas passavam rapidamente, assim como a sucessão de imagens distorcidas nos seus sonhos. A vida  depois do portão amarelo prosseguia com seu hábito. E quando o sol já não conseguia ser mais visto, e quando os mesmos pássaros da manhã já não estavam mais ali, ela acordou.
     Levantou-se com algum esforço. Viver era pesado naquele instante. Tomou um banho. Minutos antes ligara para alguém; mas não era com esse alguém que gostaria de falar. Agora estava pensando e os pensamentos eram sua maior companhia.

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    Ainda cedo o homem ia andando por ruas estranhas e cruzando com pessoas ordinárias. Seus pensamentos estavam longe. Ao seu redor não havia nada interessante. Aquela sensação da tarde anterior se andensava por entre suas entranhas. Nunca havia sentido nada como aquilo.
    Estava perdido; seguia o rumo de casa por mera intuição ou por simples hábito de percorrer aquele caminho durante tempos. Estava feliz.
 

Mariana Sacconi

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Nostalgia


    Estou saudosa de algumas ruas; de algumas árvores; das flores amarelas caindo sobre mim durante uma caminhada apressada. Estou saudosa de quando paro e começo a admirar o vento na sua tarefa de enlaçar as folhas e as derrubar delicadamente de seus galhos.
    O coração lembra dos raios de sol se infiltrando por entre os arcos formados pelos tortos ramos criados pela natureza. Alguns destes raios atingem minha pele e causam uma sensação apreciada por poucos.
    As sinuosas ruas por onde andei marcaram meus passos, e hoje tenho o costume de olhar para o chão em que piso (cuidado, sempre pode existir uma pedra no caminho).
    O modo como o tempo avança sutilmente e transforma o aspecto urbano, comove-me e me traz grande alegria. Sinto uma ligeira nostalgia do cheiro forte e agri-doce, companhia faceira de todas as manhãs. Estou saudosa da terra da laranja.


 
Mariana Sacconi

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Inércia





    Não quero escrever sobre o passado, presente ou futuro. Sou levada pela inércia de me ser.
    Já não posso mais; não tente entender, apenas saiba que meus sentimentos são verdadeiros mas já não posso. Não sei como agir do ponto em diante.
    As palavras que movem essas linhas são de negação; e escrever já não é suficiente. Tudo era sim, sim, sim. E hoje afirmações não fazem parte do cotidiano.
   Tudo se move como num sonho.
   Passar para o papel todo o sentimento sendo que nem eu mesma o conheço é uma tarefa árdua.
   Ao mesmo tempo estou vazia e transbordando ( e tantos baldes já foram cheios...).

Mariana Sacconi

domingo, 2 de janeiro de 2011

Quase

    

     Como proceder quando ao reler os escritos passados já não sentimos mais toda aquela euforia anterior? Tenho uma boa quantia destes entre meus pertences.
     Este passado (que não é tão distante) aos meus olhos de hoje demonstram algo de desvairado e insano; ainda é cedo para afirmar, mas arrisco confessar ser algo excluído do meu ser.
     Sinto um vazio. Como lidar com o oco preenchendo o corpo inteiro? Não pense ser isto algo ruim, pelo contrário.
     Não sei. E gosto do modo como não sei de (quase) nada.

Mariana Sacconi - 27/dez/2010